A "faca cirúrgica" tem 2 gumes...

Caros amigos, bem sei que poderei ser apelidado de lamechas por aquilo que vos escrevo e/ou por aquilo que faço transportar das minhas vivências, no entanto, há situações ao longo da vida que são, na verdade, autênticos momentos de descontrolo emocional e motivacional que nos levam a deixar para trás a nossa condição enquanto Ser humano em plena capacidade.

É bom que se tenha a noção do quanto é difícil, num dado momento, deixar pelo caminho vivências e experiências que outrora foram intensamente vividas e que no presente momento se encontram longe e inatingíveis.

É difícil entender o momento emocional de alguém que por o acaso, infortúnio ou difícil decisão é impedido de desenvolver o seu dia-a-dia de forma (muitas vezes monótona) normal não tendo nenhum obstáculo que o impeça de progredir com a sua vida social, profissional ou afectiva.

Ser confrontado com uma intervenção cirúrgica (IC) é muito mais que um simples “vais à faca e ficas bom”! Quando falo de IC não puxo à conversa apêndices nem nada que se pareça, entendam IC como algo que nos inibe de correr, saltar, andar, flectir, todo um conjunto de habilidades motoras que nos acompanham desde crianças… pensem então numa lesão (considerada grave) de algum ligamento, tendão ou menisco!

Falo de algo que por muito simples que vos possa parecer, leva-nos a vivências enriquecedoras para a nossa experiência de vida como também para momentos de dor, sofrimento, de auto-motivação, de capacidade de superação, enfim… enfrentamos toda uma experiência pós-operatória que nos obriga a sofrer uma reeducação motriz, proprioceptiva e adaptativa da mobilidade e coordenação outrora adquiridas.

É de extrema importância que se entenda um aspecto bastante pertinente, que um dia ouvi dum Doutor (este é dos bons!!!):

“ Tudo o que é mexido nunca fica igual”

Quando chegamos a esta altura do pós-operatório, temos a noção que somos deparados com dois caminhos, que por sinal são bastantes distintos.

1º - A lesão define-se como grave, a recuperação é demorada e difícil, o que resulta numa situação: …A nossa motivação vem por água abaixo e deixamos de acreditar numa recuperação séria e ficamos “a ver o que dá”!

2º Somos confrontados com um plano negro de recuperação o que nos leva a transformar o que nos dizem, numa forma de motivação extra que nos permite superar as dificuldades (e acreditem que são muitas!)

Fala quem já viveu esta situação e diariamente continua com resquícios desse azar! Não que a recuperação não fosse bem feita, a verdade é que o doutor tinha razão! Tudo que foi mexido nunca mais ficou igual!

Por outro lado e deixando o plano físico um pouco para trás…

Ao longo do tempo de recuperação somos confrontados com cenários que exigem uma grande força emocional e motivacional para os superar!
Quando encaramos com as vivências que fazíamos com a maior alegria do mundo e que não podemos fazer em virtude das incapacidades oferecidas pela IC, o nosso estado emocional é posto à prova, levando a que muitas vezes nos tornemos fracos deixando transparecer aquilo que não queremos mostrar… a dor, a incapacidade, o sacrifico, … as lágrimas da superação.

“Quem passa por todo este frenético carrossel de emoções torna-se meu companheiro de luta em próximas batalhas! “

Quando se passa por tudo isto, ganhamos uma nova forma de ver e viver a realidade, desfrutando os momentos com ritmos renovados, encarando e descobrindo novas configurações com o intuito de reinventar uma vida recheada de experiências.

“É assim que enfrento as adversidades, contrariando muitas vezes o mau feitio da ansiedade”

E assim me vou…

JL :B

Post dedicado ao amigo Mário "P´j"